O entrevistado do 5º Programa no nosso canal do YouTube é:
Nelson Mussolini
Ganhador do prêmio 100 Mais Influentes da Saúde. É Advogado com mais de 30 anos de experiência em funções executivas em grandes empresas, como Wyeth, Novartis, Eurofarma e atualmente Presidente Executivo do SINDUSFARMA.
Sobre o prêmio “100 mais influentes na saúde”:
Eu ainda estava na faculdade de direito quando eu comecei a trabalhar na indústria farmacêutica, eu realmente não imaginei, não poderia passar pela minha cabeça que eu ia ter essa projeção que eu tive. Óbvio que ninguém faz nada sozinho, eu sempre tive times muito bons me ajudando, e agora na Sindusfarma eu tenho um time de primeira classe, isso me ajuda demais. Eu me sinto com grande orgulho e os meus filhos falam que eu sou defensor dos frascos e comprimidos. Eu acho que esse prêmio veio coroar uma trajetória de 43 anos de indústria farmacêutica, melhor, mesmo eu estando dentro da entidade, eu participo de conselhos de duas empresas, porque nós não podemos perder, na gíria de advocacia nós usamos muito isso, encostar o umbigo no balcão, não podemos perder isso. Eu gosto muito do que eu faço, eu faço o que eu faço com muita vontade, e sem dúvida, eu faço para tentar melhorar a saúde do brasileiro através das ações da indústria farmacêutica.
Fato marcante nos últimos 10 anos:
Então, acho que uma das questões que mais me chamou atenção nesses últimos dez anos, que acho que foi uma contribuição mesmo para sociedade, foi a criação, ou a melhoria, do programa Farmácia Popular com o Aqui tem Farmácia Popular. Eu estava em férias na Bahia quando eu recebi uma ligação do Dirceu Barbano falando que nós precisávamos desenhar o programa Aqui tem Farmácia Popular. Naquela hora, o Antônio Brito da Interfarma, eu pelo Sindusfarma, o ministro Padilha do Ministério da Saúde e o Dirceu Barbano desenhamos o programa Aqui tem Farmácia Popular, com a entrega gratuita de medicamentos nas farmácias particulares - das redes principalmente e as particulares em geral. Depois a Vera Barreto se juntou a esse time. Então isso eu não tenho a mínima dúvida que foi uma contribuição que eu realmente me orgulho, eu ajudei a fazer, ajudei a desenhar, brigamos bastante no começo, mas saiu, está aí e sem dúvida nenhuma ajuda muitas pessoas, e esse é um dos orgulhos que eu tenho dos últimos dez anos, sem dúvida nenhuma eu me sinto feliz cada vez que eu passo em uma farmácia e vejo “ Aqui tem Farmácia Popular”.
Onde progredimos nos últimos dez anos:
Então as pessoas nos últimos dez anos foram se inteirando de saúde, as coisas melhoraram muito, porque há um maior fluxo de informação.
E foi através da medicina que nós conseguimos evoluir e ter uma situação muito melhor, uma qualidade de vida muito melhor. A média de vida do brasileiro homem chega aos 74 anos, da mulher já está beirando os 80, e ativos, o que é mais importante. O meu avô não teve a mesma qualidade de vida que eu tive, e aos 60 anos ele não conseguia mais trabalhar, por mais vontade que tivesse, tinha as suas exceções, obviamente, mas a regra não era isso. E hoje, a regra é você encontrar profissionais de 60, 65, 70 anos, extremamente ativos, formando riqueza, trazendo riqueza para o nosso país. Então eu acho que nos últimos dez anos esse fluxo de informação sobre as pessoas precisarem se cuidar, olhar com atenção a sua saúde, se exercitar se preparar para uma velhice, para a terceira idade, com uma qualidade de vida melhor, eu acho que isso foi a grande mudança que teve nesses últimos dez anos.
A Anvisa nesses últimos dez anos também deu um salto de qualidade monstruoso. Melhorou de forma acentuada. Nós temos uma agência que hoje é considerada uma das melhoras do mundo e só tem vinte anos de idade, e concorre com qualidade com as agências centenárias que nós temos por aí. Então sem dúvida nenhuma a nossa agência melhorou muito
Onde regredimos nos últimos 10 anos:
Como dito, nos últimos dez anos melhorou muito a informação, mas o lado ruim é que a fiscalização do uso dos nossos produtos não seguiu com a mesma agilidade da disseminação de informações. Eu sempre fui favorável a ter todas as informações o mais claras possível. Mas eu sempre achei que nós vendemos produtos que salvam vidas mas mal utilizados podem trazer grandes danos. Então essa disseminação que nós tivemos de produtos, até por informação de leigos: "minha vizinha disse, meu cunhado falou, o amigo do meu amigo, porque o meu presidente disse." Eu acho isso um problema muito sério, e aumentou muito. A fiscalização da dispensação é falha, vender produtos sem receita médica é muito arriscado e pode trazer muitos danos.
Onde estagnamos:
eu não tenho a mínima dúvida que a regulamentação de preços da indústria farmacêutica estagnou. Nós temos uma lei de 2003, quando nós não tínhamos genéricos, terapia genica, inovação incremental e uma série de outras coisas que nós temos hoje. Mas essa lei está lá e não evoluiu, ela foi bem quando foi criada, mas hoje está sendo uma lei que atrasa a inovação no nosso país.
O mundo evoluiu, a Anvisa conseguiu evoluir, mas a regulamentação de preços no Brasil andou para trás, e agora querem congelar o nosso preço, quer dizer, é um problema seríssimo, nós temos que tomar muito cuidado porque isso tira o país da rota da inovação e da competitividade.
Após a pandemia, os próximos 10 anos:
Uma coisa que tem que ficar muito clara nas nossas mentes é o seguinte, misturar ciência com política não funciona. Eu acho que a maior lição que nós vamos tirar dessa pandemia é que não deveríamos ter misturado ciência com política, ciência é uma coisa, política é outra coisa. Você pode fazer política da forma que você quiser, mas tem que tomar muito cuidado com a vida das pessoas. E quando você tem uma pandemia, essa mistura é extremamente explosiva e negativa. Então nós temos que tomar muito cuidado porque essa não é a primeira pandemia e não será a última. Com certeza outras virão e virão em períodos mais rápidos, então temos que tomar muito cuidado com essa mistura de política com ciência que vira nitroglicerina, explode, e não salva a vida de ninguém.
A segunda coisa que nós temos que olhar é que não existe fórmula mágica, é só através da pesquisa e da ciência que nós vamos chegar em algum lugar. Então quando você ouve alguns demagogos de plantão falando que tem que quebrar patente, eu fico imaginando, tudo bem, nós vamos quebrar a patente agora, e o amanhã? Como nós vamos fazer? É a mesma coisa que ter a vaca, ao invés de você tirar leite dela, você mata a vaca para levar para o churrasco. É um absurdo, quem vai querer investir em inovação se não tiver propriedade intelectual intacta? Então isso tem que tomar muito cuidado. Outro dia eu participei de uma discussão no Conselho Nacional de Saúde que falaram: "mas os governos vão fazer a pesquisa." Espera, o governo não pode pegar um bilhão de dólares e jogar em uma pesquisa e depois falar: "não deu certo." Que que faz? O que que as nossas empresas fazem hoje? Não deu certo, vou partir para outra, mas com dinheiro privado, não com dinheiro público. O dinheiro público tem que ser usado naquilo que traz retorno para a sociedade, saneamento básico, eu tenho certeza absoluta que se salva muito mais vida se enfiar um bilhão de dólares em saneamento básico do que um bilhão de dólares em qualquer outra coisa de medicamento. Não tem cabimento um negócio desse para um estado. Mas vão falar: "mas a Universidade de Oxford é pública." Não é. Ela pode até receber dinheiro público, mas ela não é pública, ela é privada. Ela pode falar hoje: "eu não quero mais dinheiro púbico" porque ela recebe os royalties. Então universidade tem que ter essa abertura, eu acho que ainda há muito no nosso país um preconceito muito grande do dinheiro privado na universidade pública: "isso não pode." Em outros países do mundo isso é extremamente normal, as universidades são mantidas com os seus royalties, aliás, tem pesquisador que é comprado como jogador de futebol, porque ele leva pesquisa, leva investimento para aquela universidade, então ele tem um passe, tem um valor do seu passe nos Estados Unidos, isso é normal você pegar um grande pesquisador em uma universidade e levar para outra universidade, com isso você leva patrocinadores para outras universidades, com isso você melhora o ensino, melhora o ambiente de pesquisa, você facilita as coisas, então acho que tem algumas coisa que essa pandemia tem que mostrar para nós: "nós precisamos investir em uma autossuficiência." Não em IFA, eu não acredito; mas em cérebro. Você viu, a Universidade de Oxford desenvolveu junto com a AstraZeneca a vacina que nós estamos tomando aqui no Brasil, mas quem fabrica são os indianos. Não tem esse problema de quem fabrica, mas quem ganha os royalties é a Universidade Oxford, quem vai ter o lucro é a AstraZeneca, então acho que essa parte é a parte importante, nós temos que tomar muito cuidado com posições, aliás, eu até escrevi um artigo sobre isso, que não tem solução mágica e muito menos demagógica: "vamos quebrar a patente e resolver o problema" não vai. Eu tenho um conhecido de uma outra entidade que fala: "quando eu ouço esse pessoal falar de quebrar patente, parece que assim, vai lá no INPI, pega um pendrive, pega a fórmula da vacina, entra em uma farmácia de manipulação, coloca no computador e sai cuspindo vacina." E não é assim que vai acontecer, tem um investimento monstruoso.
Não adianta, problemas complexos não têm soluções simples.
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